segunda-feira, 2 de abril de 2012

Sara Qualquer Coisa - Capítulo Primeiro








Isto não é nenhum conto de fadas.
Não vais ler nenhum Era uma vez ou um Felizes para Sempre. Não é uma daquelas histórias para adolescentes de um amor impossível que sempre acaba bem. Não vais encontrar aqui unicórnios, centauros ou varinhas de condão. Não é uma conspiração milenar desvendada por um professor qualquer. Não é o retrato de um cenário de guerra do ponto de vista de alguém de quem nunca te lembras do nome. Não é nenhuma dessas histórias que estás à espera.
Podes parar de ler.
Já pensaste no tempo que estás a perder a ler isto? Não o vais recuperar. Estás a envelhecer à medida que lês. Uma virgula. Estás mais velho. Um ponto final. Estás mais velho. Se eu escrever com letras muito pequenas vai parecer que tens rugas nos olhos. Vais parecer mais velho. Mais um parágrafo, mais um passo para a velhice. É inevitável.
Esta história começa num dia outonal de um ano qualquer há umas décadas atrás.
Não percas tempo a imaginar aqueles cenários cinematográficos em que o vento faz cair as folhas das árvores enquanto o Sol se põe, vermelho, no horizonte. Nada disso. Se eu não soubesse, nem conseguiria adivinhar em que altura do ano começou esta história, tão trivial é este dia. Mas como eu sei, posso dizer que começa num dia outonal de um ano qualquer há umas décadas atrás.
Como eu sei, posso dizer que começa numa das ruas mais velhas da cidade. E não, não é uma daquelas ruas que tu imaginas quando te falam nas ruas mais velhas de uma cidade. Não tem aqueles edifícios altos de arquitectura inigualável que têm a sua própria história. Não tem nenhuma daquelas casas senhoriais antigas que acabam por se tornar bibliotecas ou museus.
Esta rua tem prédios velhos e abandonados. Tem janelas partidas e portas a cair de podre. Tem ratos a atravessar a estrada. Tem tascos barulhentos. Tem putas e bêbedos por tudo o quanto é canto. Ao passar nesta rua vais chutando uma lata de refrigerante, ou uma beata, ou um preservativo usado, ou outra beata.
É nesta rua que eu trabalho. Não queres saber qual é o meu trabalho, só te vai envelhecer.
E ali estava eu a fumar mais um cigarro sem me importar com a cinza que me caía na farda suja, velha e gasta. Tão suja, velha e gasta que parece que eu faço parte daquela rua. Vendo bem, até faço.
Foi nesse dia outonal de um ano qualquer há umas décadas atrás, enquanto devorava o último cigarro daquele maço, que eu a conheci.
Lá estás tu outra vez. Estás a imaginar tudo em em câmara lenta, as folhas das árvores a cair ao sabor do vento, as crianças a brincar no meio da rua. Provavelmente estás a imaginar-me de gabardine até. E, nessa tua imaginação fértil, a minha gabardine está a esvoaçar ao vento. E eu, enquanto dou uma última passa na ponta do cigarro, vejo-a chegar. Qual cinderela. A caminhar na minha direcção, esbelta e determinada, com os cabelos loiros soltos a reflectir o Sol. Mas isso é a tua cabecinha a imaginar. Isso és tu a não prestar atenção a nada do que eu digo. A minha farda não tem gabardine, não sou nenhum detective com um daqueles chapéus à Sherlock Holmes. Isso és tu a envelhecer mais um bocado.
Olá, boa noite. Tenho uma reunião marcada para as 21.30h.
Foram essas as primeiras palavras que ela me dirigiu. Sim, já era de noite. Eu disse-te para prestares atenção.
Não reparei nela até se dirigir a mim. Não a ouvi chegar com todo o barulho que saía dos tascos e os canos de escape aos berros. Não vi nenhum daqueles brilhos divinais que tu imaginas, como se ela tivesse uma lâmpada nas costas. Com o cabelo desgrenhado e aquelas roupas que pareciam saídas do guarda-fatos de um circo, ela passava despercebida nesta rua.
Disse-lhe que tinha que aguardar ali que a viessem chamar. Voltei costas, tirei um maço de cigarros novo do bolso e acendi mais um cigarro. Mal reparei naquela miúda. Ela ia mudar a minha vida pouco tempo depois, ia salvar-me da minha própria destruição. Mas eu não podia saber isso. E, portanto, tudo o que me lembro dela desse dia é que passava despercebida. Que tinha olhos azuis e que se chamava Sara. Sara qualquer coisa.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Sinto-me assim.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Retrato da minha Velhice.


Uma sala não muito grande para não perder conforto, não muito pequena porque têm que caber as estantes. Uma poltrona, um candeeiro de pé, uma manta no meu colo, a lareira acesa e o monte dos "must read" na escrivanhinha na parede em frente. O chão é num parquet de mogno. Nas estantes, livros de capa dura tão velhos que já não se lê nada na lombada. A neve já quase cobre as janelas e a luz do candeeiro é a minha companhia pela noite dentro.

Vive!

Não faças demasiados planos, a vida é um rascunho. Muita coisa rasurada e um monte de parêntesis. Não podes apagar. Podes escrever por cima, mas não se vê tão bem e deixa margem para dúvidas.
Não pares para pensar, escreve!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O Dantas cheira mal dos pés!

Todos com os olhos postos nos seu botões.
Todos iludidos com a sua própria visão do mundo.
Cambada de Dantas que aí anda.
Morram todos! PIM!

É no mau sentido!


O mundo não é cor-de-rosa. Também não é a preto e branco.
O mundo é cheio de cores!!!
Não, não digo isto no bom sentido.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Cinema a cores, Mundo a preto e branco.



A sociedade de hoje é como um bom filme dos anos 30. É a preto e branco e não tem voz. E os actores limitam-se a seguir o guião a que nós chamamos Media.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Memórias do meu jardim.



Eu lembro-me deste banco de jardim ser verde e não castanho e preto. Eu lembro-me das pernas deste banco não terem ferrugem. Lembro-me deste jardim estar cheio de flores de cores vivas, agora é um relvado meio careca. Lembro-me de me sentar aqui a ouvir os pássaros cantar a vida, hoje apenas se ouvem pombas que batalham pela comida que os velhos deixam. Este jardim é, agora, o hábitat natural dos cães vadios. Ali, no sopé daquela árvore, costuma estar um toxicodependente a morrer, todos os dias.
Eu estou deitado no chão, em cima da merda das pombas. Derrotado, com o Sol a bater na cara.
Aguardo o dia em que alguém irá restaurar o banco e plantar flores neste jardim.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Eu já sonhei....



Hoje sou apenas uma máquina de carne na linha de produção que é a nossa sociedade.
Mas houve um tempo em que eu construia castelos com os sonhos.
E hoje ainda encontro, perdido nas ruinas do meu castelo, o sonho de estar um dia numa estante, fechado dentro de um livro.
Imagino-me vestido de pó, com a minha pele branca já amarelada da velhice. Esquecido numa secretaria, a servir de calço para o sonho de alguém.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Palavras velhas de esplanada.



Estou sentado à sombra de uma árvore por nascer, na margem de um rio que já correu.
E estou assim, inerte. Sem saber se fico para ver a árvore crescer ou vou para onde o rio foi.